sexta-feira, 7 de maio de 2010

A voz das ruas

Rodolfo Lucena, maratonista e colunista da da Folha de São Paulo, escreveu ontem (06/05) no caderno Equilíbrio, a matéria com o título acima.

Ele fala daquilo que todos corredores passam quando o público manda seu recado no percurso da corrida, "falta pouco",... "não para", "vão bora"... coisas assim que costumamos ouvir.

Muito interessante, leia abaixo:

"Percorri as ruas de Santiago, no mês passado, em uma maratona que foi também uma demonstração de solidariedade ao povo chileno, em luta pela reconstrução depois do terremoto e do maremoto de fevereiro. Antes da largada, os mais de 20 mil participantes do evento formaram um gigantesco painel humano, desenhando no asfalto, com seus corpos, a bandeira do Chile.

Quando partimos, começou para mim outra descoberta: a das manifestações do público que acompanhava a corrida. Em qualquer prova, por menor que seja, sempre aparece alguém para dizer algo aos corredores, uma palavra de incentivo, uma brincadeira, uma ofensa, aquilo que dá vontade. Enfim, nem sempre a palavra do espectador casa com a vontade do que se esfalfa no asfalto.

Nas ruas de Santiago, gritavam para a gente: "Animo, animo!". Queriam dizer "Coragem, força!", mas eu tinha vontade de parar e falar para o sujeito que eu não estava desanimado, era só o meu jeitão mesmo.

São incentivos meio estranhos. Em Buenos Aires, grupos de meninas gritam a plenos pulmões: "Si, se puede!", meio à moda do slogan da campanha obamista ("Yes, we can"). Mais voltados ao mundo corporativo, os americanos aplaudem dizendo "Good job", e eu sempre tenho vontade de responder que aquilo é pura diversão, não trabalho. Na Grã-Bretanha, ouço um fleumático "Well done", que mais parece nota para um bom trabalho escolar do que grito de guerra de maratonista.

O pior de tudo, em qualquer idioma, é quando o sujeito grita "Falta pouco!", pois cada um de nossos músculos sabe, por longa experiência, que cada quilômetro é mais comprido e dolorido que o anterior. Se o entusiasta acrescenta um "Não para, não para!", então, o desejo é esgoelar o dito cujo.

É como se espectador e corredor falassem línguas diferentes. Quem vê, em geral, não sabe, não tem ideia do que o sujeito no asfalto está enfrentando; cabe a ele, ao corredor, portanto, compreender a voz do público.

Trata-se de mais uma faceta desse esporte: correr é um ato de generosidade. Em primeiro lugar, da pessoa consigo mesma, pois doa a si própria um pouco do tempo que tem e que é tão disputado pelas exigências da vida.

Ao mesmo tempo agora, igualmente em primeiro lugar, é a demonstração de generosidade da pessoa para o mundo, pois o corredor se entrega quando vai para as ruas. Transforma-se em atração, exemplo, objeto de piada ou de solidariedade -enfim, está exposto ao que der e vier, sem defesas.

Precisa, pois, ser capaz de ouvir e compreender a voz que vem das ruas. Aprender e crescer com ela, que é parceira da vida corrida."
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RODOLFO LUCENA , 53, é editor de Informática da Folha, ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record) e de "+Corrida" (Publifolha) 

domingo, 2 de maio de 2010

Uma festa tradicional e erros primários, marcaram a 40ª Corrida do Trabalhador

Foi dada a largada.

A turba eufórica, com seus mais variados motivos, desembesta no trajeto estabelecido dando vida a cada palmo do asfalto com o colorido da sua alegria.

Por onde passam marcam com o entusiasmo, de garra e superação, uma história no caderno da vida.

De domingo em domingo vão incentivando muitos outros a acompanharem, sob sol ou chuva, uma manhã de atividade esportiva, cujo retrato marca a qualidade de viver mais saudável. A arquitetura de Brasília, por sua beleza e harmonia associa-se ao evento ao proporcionar aos que desejam se desafiar nas avenidas da cidade um visual impar.

Na chegada, o que todos desejam é comemorar.

Evidente que os percalços do trajeto produzem a riqueza da corrida. Sua dificuldade, o visual, premiação, o motivo, etc.

A tradicional corrida do trabalhador tinha tudo prá ser o que sempre se viu nas versões anteriores, uma grande corrida cuja festa homenageia o trabalhador brasileiro.

A 40ª Corrida do Trabalhador (01/04) a reclamação geral foi o que se observou. A razão que chamou a atenção foi surpreendente, erro do percurso. As variações de quem correu com GPS foram insignificantes entre si, mas a quilometragem marcada estava acima de 11,6km, para o trajeto de 10km prometido.

As consequencias são desastrosas. O corredor no trajeto não pensa, ele cumpre meta. Compara seu desempenho com o tempo estabelecido em cada quilômetro e por ele trava sua luta para chegar bem. Uma vez distorcida essa relação, o conflito interno está estabelecido e o desempenho comprometido.
  
No percurso de 5km o sobressalto dos primeiros participantes ao cruzarem a linha de chegada foi em verificar que bateram recordes. O retorno informado foi antecipado em mais de 1 km.

Esses erros, primários, tiram o brilho da festa.
Recentemente, algumas corridas têm pecado na qualidade. Aqueles que fazem a festa são tratados de forma secundária na questão do planejamento. Esquecem os organizadores que o mesmo empenho dado aos camarotes e salas vips devem àqueles que fazem a festa - os corredores. O patrocinador sai perdendo com os descontentamentos.

À Federação de Atletismo não cabe a responsabilidade direta, mas as incertas para averiguação antecipada daquilo que é prometido evita dissabores e dá a ela, Federação, a condição de guardiã dos corredores, pois sem o seu “permit” o evento não ocorre.

Parabéns a todos os corredores!

Veja as fotos da corrida (clique nos links):